domingo, 10 de outubro de 2010

O essencial é invisível aos olhos

Muita gente quando criança leu O pequeno príncipe, de Exupéry. No ano passado tive a oportunidade de lê-lo novamente, desta vez para o Thiago, meu filho caçula, pois para minha sorte, a escola fez essa solicitação. Essa segunda leitura foi não só mais produtiva como também mais emocionante. Puxa vida, como aquele livro nos ensina! Aparentemente é um livro infantil, mas olha, os recados ali dados servem muito mais pra nós adultos.

Pra quem não terá a oportunidade de lê-lo novamente, pelo menos por agora, se possível dê uma paradinha para ler devagarzinho e com o coração o trecho abaixo que, aliás, é o meu predileto.

Beijo com amor!

Carlinha

E foi então que apareceu a raposa.

__ Bom dia - disse a raposa.

__ Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, que , olhando a sua volta, nada viu.

__ Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...

__ Quem és tu? - perguntou o principezinho. __ Tu és bem bonita...

__ Sou uma raposa - disse a raposa.

__ Vem brincar comigo - propôs ele. __ Estou tão triste...

__ Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. __ Não me cativaram ainda.

__ Ah! Desculpa - disse o principezinho.

Mas após refletir, acrescentou:

__ O que quer dizer "cativar"?

__ Tu não és daqui - disse a raposa. __ Que procuras?

__ Procuro homens - disse o pequeno príncipe. __ Que quer dizer "cativar"?

__ Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?

__ Não - disse o príncipe. __ Eu procuro amigos. __ Que quer dizer "cativar"?

__ É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. __ Significa "criar laços"...

__ Criar laços?

__ Exatamente - disse a raposa. __ Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E não tenho necessidade de ti. E tu também não tem necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo...

__ Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. __ Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

__ É possível - disse a raposa. __ Vê-se tanta coisa na Terra...

__ Oh! não foi na Terra - disse o principezinho.

A raposa pareceu intrigada:

__ Num outro planeta?

__ Sim.

__ Há caçadores nesse outro planeta?

__ Não.

__ Que bom! E galinhas?

__ Também não

__ Nada é perfeito - suspirou a raposa.

Mas a raposa retornou a seu raciocínio.

__ Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:

__ Por favor... cativa-me! -disse ela.

__ Eu até gostaria -disse o principezinho -, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

__ A gente só conhece bem as coisas que cativou -disse a raposa. __ Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

__ O que é preciso fazer? -perguntou o pequeno príncipe.

__ É preciso ser paciente -respondeu a raposa. __ Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. E te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás um pouco mais perto...

No dia seguinte o príncipe voltou.

__ Teria sido melhor se voltasses à mesma hora -disse a raposa. __ Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração... É preciso que haja um ritual.

__ Que é um "ritual"? -perguntou o principezinho.

__ É uma coisa muito esquecida também -disse a raposa. __ É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, adoram um ritual. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira é então o dia maravilhoso! Vou passear até à vinha. Se os caçadores dançassem em qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu nunca teria férias!

Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

__ Ah! Eu vou chorar.

__ A culpa é tua - disse o principezinho. __ Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

__ Quis - disse a raposa.

__ Mas tu vais chorar! -disse ele.

__ Vou - disse a raposa.

__ Então não terás ganho nada!

__ Terei, sim - disse a raposa __ por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

__ Vai rever as rosas. Assim, compreenderá que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.

O pequeno príncipe foi rever as rosas:

__ Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo.

E as rosas ficaram desapontadas.

__ Sóis belas, mas vazias - continuou ele. __Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mas importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

__ Adeus... -disse ele.

__ Adeus -disse a raposa. __ Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.

__ O essencial é invisível aos olhos - repetiu o principezinho, para não esquecer.

__ Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.

__ Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... -repetiu ele, para não esquecer.

__ Os homens esqueceram essa verdade -disse ainda a raposa. __ Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...

__ Eu sou responsável pela minha rosa... -repetiu o principezinho, para não esquecer.

Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Lugares de paz

Cheguei quase 1 hora antes do combinado, toquei o interfone, me identifiquei e remotamente abriram o portão. Entrei, passei pelos vasinhos de flores que ficam na entrada. A casa estava toda escura e o silêncio era tão prazeroso que fiquei alguns segundos ali o aproveitando. Com certeza eu era a primeira a chegar! Vi uma luz fraquinha na capela e fui caminhando devagarzinho até lá. Antes mesmo de chegar perto, por uma das janelas semi-abertas, avistei o Padre Osvaldo em frente ao sacrário, sozinho e em oração. Resolvi não prosseguir pra não atrapalhar. Nos 20 minutos seguintes fiquei caminhando no escuro e em silêncio por todo o Recanto de Caná até que o PO aparecesse e um tempo depois começasse a chegar o restante do pessoal pra missa de entrega.

Como seria bom se eu pudesse ter aquela sensação de paz intensa com mais frequência! Sabe quando a gente acorda de madrugada, a casa toda escura e silenciosa, para não fazer barulho vai descalço até a cozinha tomar um copo d´água, na volta dá uma paradinha no quarto dos filhos e os vê dormindo aquele soninho melhor do mundo? É ou não uma sensação de paz maravilhosa?

A vida tem sido um turbilhão de atividades, trânsito caótico na hora do almoço, corrida pra dar tempo de cumprir todas as atividades do dia. No final de semana de setembro em que eu trabalhei na cozinha do encontro pros familiares dos internos, ficou ainda mais claro como estou em um ritmo frenético. Cozinha de encontro é puxada, a gente trabalha em pé da hora que acorda até a hora de deitar e, apesar disso, no final do sábado, pra minha surpresa, eu nem estava tão cansada assim... Dormi muito pouco de sábado pra domingo: faltava meu travesseiro, sobrava pernilongo, faltava também o vidro em uma das janelas e o vento frio entrava sem cerimônia; mas acordamos felizes no dia seguinte antes das 06 horas, trabalhamos o dia todo e o cansaço só foi bater pra valer em mim no final do domingo, por volta das 21h, depois de chegar em casa, tomar meu banho e deitar na minha cama. Isso mostra como o dia a dia tem sido muito mais exaustivo que um final de semana inteiro trabalhando na cozinha do Caná. Por que trabalhar sentada em frente ao computador, com o esforço físico de apenas 4 dedos (É! Sou catilógrafa) me deixa mais cansada do que a cozinha do encontro? Certamente a quantidade de risos dados naqueles dois dias foi maior do que em 1 mês inteiro no trabalho. Além disso, a troca dos relacionamentos superficiais (e muitas vezes não sinceros) do ambiente profissional pelas amizades verdadeiras também faz um bem danado!

Está claro que a Fazenda tem se tornado outro lugar de paz pra mim, e é inevitável, vou lá com a intenção de ser útil, mas saio sempre no lucro! E de lá tenho construído dezenas de boas lembranças, assim como tenho do Recanto...

São sensações como as acima que quero cada vez mais e as tenho buscado, porque o que me parece é que muitas vezes, fora destes lugares ou do ambiente familiar, estou numa selva.

São momentos e lugares como os que citei, que nos deixam mais leves pra dar conta do mundo lá fora. Desejo que vocês estejam na busca dos seus também!

Beijo grande!

Carlinha

domingo, 26 de setembro de 2010

O povo precisa é do Tiririca?


Durante os últimos 4 anos, eu recebi alguns poucos emails sobre política, geralmente uma piadinha sobre o Lula... O milagre da multiplicação dos emails aconteceu nos últimos 2 meses! Tenho recebido pelo menos 5 ou 6 mensagens diárias, denegrindo a imagem do Serra ou da Dilma. Mas onde estão os emails falando da Marina? Será então que ela é uma política diferenciada e por isso não existem manchas no seu passado? Claro que esta é apenas uma provocação; todos nós sabemos que o foco está nos candidatos do PSDB e PT, por liderarem as pesquisas.

Como sempre acontece também, muitas pessoas dizem que querem votar na Marina, mas votarão no Serra para tentar evitar a Dilma. Será que o voto é isso mesmo, um jogo estratégico onde votamos em quem não acreditamos para evitar o que julgamos ainda pior? Eu não creio. Não vou votar em alguém que não merece o meu voto para evitar outro. Na minha opinião os dois são ruins e sendo assim, não vou votar no menos pior. Mas, espera um minuto, o problema é esse mesmo ou estamos discutindo as conseqüências dele?

Os partidos estão nos oferecendo candidatos capazes de assumir a tarefa pública? Romário, Bebeto, Marcelinho Carioca, Túlio Maravilha, Roberto Dinamite, Vampeta, Agnaldo Timótio, não sei quem do KLB, Mulher Pera e outras frutas, Ronaldo Esper, Netinho para Senador, Tiririca e outros estão preparados para tal? “Vote em Tiririca, pior do que está não fica”. Fica sim meus caros, pode ficar muito pior. Mas onde estão os emails que deveriam articular o povo para impedir uma candidatura e talvez até a eleição, de um Tiririca da vida? Colocar alguém despreparado para uma tarefa importante é ser inconseqüente. Porque as pesquisas anunciam a eleição fácil do Tiririca? Será que as pessoas estão votando nele por sua competência? Não posso acreditar nisto... Ou será que estão votando como forma de brincadeira, piada? Também não pode ser... Talvez seja uma forma de protesto. Já que a grande maioria dos políticos são uns hipócritas corruptos, voto no palhaço como protesto. Meus caros, até para protestar nós temos que estar preparados. Um protesto como este é um tiro no pé!!

Minha frustração é ver a apatia da população e pior ainda, as pessoas não questionarem o que estão fazendo e apenas repassarem. A internet virou a promotora do amadorismo. Reflitam comigo, você compra um livro ou lê uma revista, um artigo, de quem tem autoridade para falar sobre o tema. A internet proporcionou visibilidade aos desconhecidos, amadores que se encobrem sob o véu da não identidade e podem então postar o que quiserem. Até aí, tudo bem! Somos livres e devemos usar esta autonomia também na forma de novas idéias. Mas qual a responsabilidade de quem lê? Não deveríamos fazê-lo com olhos críticos e na dúvida não reenviar? Meus amigos, repassar um email cuja informação não seja clara, fidedigna e verdadeira, pode deflagrar um tsunami virtual de irresponsabilidade.

Estes emails pedindo para repassar, como utilidade pública ou 'assinado' por alguém notório, são repassados como verdade absoluta. No momento em que repassamos, estamos subindo em um palanque e discursando para uma grande massa de internautas. Por isso é preciso ter senso crítico e validar o que se está repassando.

Sejamos cidadãos sérios e façamos nosso dever de casa. Da mesma forma que navegamos na web buscando notícias, músicas, filmes, etc, sugiro a todos entrar nos sites de informação sobre os nossos políticos. Pesquisar suas fichas, o que fizeram, projetos propostos e aprovados, para escolher o seu candidato. O 'Transparência Brasil' é muito bom, mas existem vários.

Vote com consciência e responsabilidade.

Que Deus nos ajude,

Paulo Tadeu de Resende


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ÉTICA E POLÍTICA

“ O semeador saiu para semear a sua semente” (Lc 8, 5)

É com essa palavra que iniciamos mais um projeto Eleições. Desde 2006, o NesP organiza, em anos de eleição, atividades dedicadas a pensar o processo eleitoral. Em 2010 não é diferente. Neste ano a campanha do NesP retoma algumas reflexões realizadas anteriormente e acrescenta assuntos novos com a intenção de contribuir com as tarefas árduas do semeador: a de sair e a de semear.

Precisa-se de cidadãos não apenas dispostos a semear uma nova forma de pensar a sociedade e a política, mas interessados em sair do lugar para fazer o trabalho de encontrar terra boa para a semente. Encontrar solo fértil, neste momento, significa identificar os que defendem causas comprometidas com a vida, com o bem comum, com a inclusão e com a justiça social. Significa encontrar candidatos que mobilizem a sociedade a favor do crescimento da consciência política e que defendam a participação popular e os interesses da coletividade. Significa sair à procura e em defesa dos que se pautam pela honestidade, pela ética e pelo compromisso com os mais pobres.

O que pretendemos com esta campanha é contribuir para que o cristão comprometido seja semeador desta boa semente - a ética - e encontre para ela terra boa na qual germine ideais de uma nova cultura política no país. Que o engajamento de cada semeador contribua para que a sociedade repense as formas de conviver com os políticos e consiga ajudar o aprimoramento da democracia no Brasil.

A nossa sugestão é para que todos arregacem as mangas, descruzem os braços e se ponham a cultivar o ideal de mudança: procurar a terra boa, jogar nela a semente de boa qualidade, adubar, zelar da semeadura com dedicação para que possamos, ao final do processo eleitoral, colher os bons frutos originados desse trabalho. Por isso, convidamos todos a se dedicarem a esta iniciativa. Em cada discussão, em cada reunião, em cada voto consciente, em cada momento em que um cidadão se decide por votar a favor da honestidade, da ética, do bem comum e contra a corrupção estamos construindo a democracia e defendendo os princípios éticos.

Quais seriam os princípios éticos dos quais não podemos abrir mão? Podemos resumir esses princípios lembrando-nos de que a política deve defender os Direitos Humanos. Os direitos referentes à vida devem prevalecer sobre os direitos referentes às coisas, e os direitos referentes ao bem de todos devem prevalecer sobre os direitos referentes ao bem particular. Podemos também lembrar que o político ético é o que se põe em atitude de serviço, não de dominação e nem de busca do proveito pessoal. O político ético é o que ajuda a proporcionar condições para que as pessoas e as comunidades possam levar uma vida digna e solidária.

A mudança desejada poderá levar algum tempo para acontecer, como é comum com toda mudança nas formas de pensar e de agir de um povo. Há apenas trinta anos, pouca gente se preocupava com a poluição dos rios, com a reciclagem de materiais, com as novas fontes de energia. Foram necessárias muitas campanhas em favor da ecologia e do respeito à natureza, reforçadas por leis de proteção ambiental, para que essa mentalidade começasse a mudar.

Esperamos que nossas campanhas pela consciência democrática tenham fertilidade e sejam semente que caia em boa terra. Em outubro deste ano devemos comparecer a uma seção eleitoral para votar, fazendo valer nosso direito de cidadãos e cidadãs. Vamos eleger presidente da República, o governador, senadores, deputados federais e deputados estaduais. A nossa participação é fundamental. Mas participar como? Votando em candidatos que defendam a ética, o compromisso com os necessitados, a honestidade e a justiça social.

Fonte: http://www.pucminas.br/nesp
Contribuição de Márcio Vítor

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

OS PEQUENOS MILAGRES DE CADA DIA

No ultimo mês, voltei a freqüentar a missa na Capela de Maria Porta do Céu, pertencente ao complexo da Igreja de Nossa Senhora Desatadora dos Nós, aqui em Campinas/SP. Minha comunicação com o “andar de cima” estava meio atrapalhada, cheia de ruídos, e então resolvi resgatá-la. A Palavra de Deus, na minha experiência, sempre me alimentou e renovou minhas esperanças em dias melhores, mesmo que, em muitos momentos, eu não tenha tido condições de compreendê-la.

Preciso dizer que essa capela sempre mexeu muito comigo. Não sei dizer o que é, mas sinto algo diferente quando entro lá. Uma paz enorme toma conta de mim e quase sempre eu passo a missa inteira chorando. Não se trata de um choro de sofrimento, mas de um choro de agradecimento por estar ali sendo ouvida por Jesus e Maria, pela honra de estar sendo recebida por Eles naquele lugar santo. Sei lá... Só sei que é algo bom, como se minhas lágrimas lavassem minha alma. Saio de lá sempre mais leve e com mais coragem para enfrentar a vida.

Já há algumas semanas estava me sentindo mal por ter saído do meu emprego. Não pelo fato de ter saído, mas pela forma como foi. Eu me sentia traída por pessoas que eu confiava, pessoas que eu ensinei a trabalhar literalmente e que me envolveram numa trama digna de Hollywood. Eu estava cheia de mágoa e, em alguns momentos, até mesmo ódio. Não podia evitar, pois a decepção era imensa. Eu só conseguia pensar em justiça, na “justiça de Deus”, já que eu não podia fazer nada naquele momento. Na verdade, eu queria punição para aqueles que me fizeram sofrer, mas a MINHA punição. Na minha concepção, eu havia feito tudo certo, não tinha desejado ou feito mal a ninguém, então por que o mal triunfaria? E eu pensava nisso 24h por dia. Pensamentos que estavam cada vez mais me envenenando e me fazendo sofrer.

Na última 6ª feira senti algo intrigante durante a missa, não sei se essa é a palavra correta. Sentia o meu coração ainda pesado de mágoa. Desta vez meu pedido era para que a mágoa se dissipasse, mas algo muito melhor aconteceu. Eu não sei explicar como, mas num dado momento eu senti como se todos os pensamentos confusos e sentimentos ruins misturados que eu trazia fossem limpos e uma clareza imensa de percepção do que havia ocorrido tomou conta de mim. Pela primeira vez eu podia enxergar o que acontecera em todas as perspectivas, e, de minha parte, o que eu havia feito, mesmo sem saber ou querer, para que os acontecimentos tivessem caminhado para aquele desfecho. De repente tudo ficou tão claro e límpido, e eu me pus a pedir perdão a Deus pelos meus erros, cujo principal teria sido o de esquecer que trabalhamos não para a nossa causa, mas pela causa Dele, para a construção do Seu Reino. Imaginem eu, freqüentadora do PRODES por tantos anos, que havia escutado e falado tantas vezes disso, como poderia ter me esquecido? Como pude deixar que a fraqueza do humano sobrepusesse os propósitos de Deus? Como pude esquecer que se estamos aqui no mundo, do jeito que estamos, é somente porque Ele quer que trabalhemos para Sua obra? Recordo-me de uma vez ter ficado um bom tempo conversando com o Elimar sobre isso, e que ele, em muitos momentos e de muitas formas, me lembrou disso... Em algum lugar do caminho eu havia me perdido, e aquela foi a forma que Ele encontrou para me trazer de volta às Suas coisas, ao Seu caminho. Se não vai pelo amor, vai pela dor, não é?

Depois dessa constatação, fiquei ajoelhada pedindo perdão sem parar até que senti, de verdade, que havia sido perdoada, e uma enorme paz tomou conta de mim de uma forma indescritível. Eu estava leve, parecia poder flutuar se eu quisesse. Até mesmo a lembrança ruim das pessoas que me prejudicaram havia sido transformada e eu pensava nelas com compaixão. Para mim, um milagre aconteceu ali, que pode parecer pequeno aos olhos daqueles que esperam que Deus se manifeste de formas estrondosas e magníficas. Eu senti, como nunca antes, a presença e o amor de Deus me perdoando e me dando licença para tentar outra vez... É , tentar outra vez, porque o trabalho pelo Seu reino é grande e pesado, e Ele precisa de cada um que quiser ser resgatado para isso. Interessante que Ele havia me dado esse sinal em uma música do Raul Seixas que eu escutava no meu carro no momento em que cheguei na igreja aquele dia: “tente outra vez...”. Ele nos dá sinais o tempo todo, nós é que muitas vezes estamos cegos ou surdos a eles.

Eu passei o resto da missa e uma meia hora depois de seu término agradecendo aquele “milagre”, aquela graça que eu havia recebido. Não sou melhor do que ninguém, nem quero servir de exemplo, sou apenas uma filha de Deus que recebeu a Sua misericórdia.

Não vou mentir, também senti medo e ainda sinto. Medo de que não consiga cuidar bem dos “negócios” do Pai, que não consiga levar adiante o propósito da construção do Seu Reino, que não consiga entender os seus sinais, mas entreguei meu coração a Ele como nunca havia feito antes, talvez até por falta de maturidade espiritual, não sei..., e acredito que Ele vai me ajudar a continuar enxergando. Afinal, eu via claramente o argueiro nos olhos dos outros e não enxergava a trave nos meus. Eu estava cega e voltei a enxergar...

Foi lindo!!! E eu queria compartilhar isso com vocês, meus irmãos em Cristo.

Grande e saudoso beijo,

Karla Vignoli Viegas Barreira.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Caixinha de chicletes

Pequenos objetos têm o poder de nos despertar fortes lembranças e nos remeter ao passado. Um desses objetos em minha vida é uma caixinha de chicletes, daquelas amarelinhas.
Foi no final de 1998 ... eu estava de férias e chegava a São Domingos do Prata vindo de Itabira onde visitara meu irmão. Estava cansado depois de uma viagem baldeando ônibus, com a fome avisando que já havia passado a hora do almoço e com saudades de minha esposa, que nessa época ainda morava no Prata.
Desci do ônibus na praça central e atravessava o pequeno centro comercial, naquela agitação calma de cidade pequena, quando escuto dois toques de buzina. Em cidades como o Prata a buzina tem uma função diferente das capitais. Raramente se buzina para pedir passagem, alertar do perigo ou mesmo para ofender o pedestre ou outro motorista. Em pequenas cidades a buzina tem a função de cumprimento, normalmente quer dizer um “olá, como vai!”.
A buzina era destinada a mim e, ao volante de sua Brasília verde desbotada, estava minha mãe. Ela estava com aquele rosto sorridente, olhos apertados, debruçada sobre o banco do carona. Lembro-me de seu rosto neste momento como se estivesse olhando uma fotografia: sem maquiagem, cabelos amarrados para trás, uma blusa clara. Fui até ela e, com o carro parado no meio da rua, dei-lhe um beijo pela janela.
- Ei nêgo!
Nêgo ou nêga era uma das formas mais carinhosas que ela tinha de se dirigir a uma pessoa.
Ela estava indo fazer compras e me chamou para acompanhá-la. Este nunca foi um dos meus programas favoritos, estava cansado e com fome, mas fui assim mesmo.
Gastamos pouco mais de uma hora para fazer as compras e depois ela me deixou na casa da minha sogra. No momento em que descia do carro e puxava minha mochila para fora, ela me pediu para que pegasse um chicletes para ela.
Nesta época o meu cunhado tinha um bar por baixo da casa da minha sogra. Corri até o balcão, enchi a mão com aqueles chicletes da caixinha amarela mal cumprimentando meu cunhado e voltei correndo ao carro enquanto ela terminava de manobrar para voltar por onde tínhamos vindo.
Lembro-me claramente da mão dela saindo pela janela, palma voltada para cima, eu posicionando minha mão sobre a dela e abrindo devagar, enquanto as caixinhas caíam na mão dela. Não me lembro do rosto dela neste momento, nem mesmo me lembro se lhe dei um beijo antes que ela arrancasse o carro. Mas me lembro que meus dedos roçaram a mão dela e senti a mão dela quente.
Cada vez que vejo uma caixinha amarela de chicletes eu me lembro deste segundo porque esta foi a última vez que toquei minha mãe. Eu nem me lembro se a beijei na despedida, mas aquele toque me é inesquecível. Na manhã seguinte chegam me avisando que ela estava passando mal e havia ido para o hospital. Na verdade ela não chegou viva ao hospital.
Cada vez que vejo uma caixinha amarela de chicletes eu me lembro que talvez aquele momento seja a minha última chance de fazer algo muito importante, como dizer a alguém que eu o amo!

Mozart

terça-feira, 17 de agosto de 2010

UM EXÉRCITO EM ORDEM DE BATALHA


A Legião de Maria nasceu em Dublim, a 7 de setembro de 1921, véspera da Natividade de Nossa Senhora, por iniciativa de Frank Duff, que se reuniu com mais 14 pessoas para, juntas, procurarem uma forma de apostolado.


Neste encontro, todos invocaram o Espírito Santo e rezaram o Terço, depois resolveram visitar, dois a dois, tal como os Apóstolos, os doentes hospitalizados. Manifestando também o desejo de se reencontrarem todas as semanas.


Foi a partir dessa reunião que se deu início à Legião de Maria, que tem como elemento de base, o Praesidium (na Legião significa o grupo local), pequeno grupo de 4 a 20 pessoas que se divide em Praesidium adulto (maiores de 18 anos) e Praesidium juvenil (crianças e adolescentes). Tendo como características:


- oração em comum


Reza diária da “Catena Legionis” que é uma oração de união entre os membros da Legião juntamente com o terço;


- trabalho apostólico bem determinado


Definidos durante cada reunião e executado de dois a dois pelos membros ativos, estes podem ser: visita a família, Hora de Guarda, visita ao enfermo, confecções e distribuições de mensagens, entre outros.


- reunião semanal


Onde os legionários se encontram, rezam o terço com a Catena e prestam conta dos trabalhos marcados.


A Legião de Maria conta com dois tipos de membros: os membros ativos, que frequentam a reunião semanal e fazem os trabalhos e os membros auxiliares, que ficam em casa e rezam por nós.


Esta forma de apostolado, estendeu-se ao mundo inteiro, sendo hoje um movimento internacional, católico de leigos que querem colaborar na Missão evangelizadora da Igreja.Os Legionários dão-se, pois, a Nossa Senhora; querem ajudá-la na sua missão de Mãe da Igreja, eles consideram-se como instrumentos da Rainha dos Apóstolos e, pela sua intima união com Ela, entregam-se à ação do Espírito Santo que é o principal agente da evangelização.


Gostaria de agradecer ao Márcio e a Jacqueline pela oportunidade de evangelizar, de levar Maria ao mundo através desse artigo. Vocês foram instrumentos Dela, ao oferecerem oportunidade de divulgar um pouquinho sobre a Legião de Maria e quem sabe despertar a vontade de ser um membro, seja ele ativo ou auxiliar...


Obrigada de coração, que Maria os abençoe e os cubram com o manto Sagrado.


“O poder de Deus é certamente infinito, mas está, todavia, subordinado à Sua Sabedoria e Justiça; Sua justiça é também infinita, mas está subordinada ao Seu Amor; infinito é Seu Amor, mas sujeito à Sua infinita Santidade. Harmonizam-se, de tal maneira, as qualidades que, entre eles, nenhum choque é possível, pois cada um é maior na sua própria esfera. Deste modo, uma infinidade de infinitos, atuando cada um, segundo o seu modo de ser, junta-se na unidade infinitamente simples de Deus”


(Cardeal Newman: A Ordem, Testemunho e Instrumento de Unidade)



Maysa Xavier

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A graça de ser só


Ando pensando no valor de ser só.

Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres.

Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.

Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar.

Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual.

Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do “pode ou não pode”.

A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo.

Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser dos que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo.

Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou ser padre, e quando escolhi o ser, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites.

Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades.

Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade.

Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço.

Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas.

Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração. Deus me mostra.

Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar em “propriedade privada”.

Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu seja o redentor de suas vidas.

Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.

Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras, nem olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere.

Fizeram sexo demais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.

É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez.

Da mesma forma que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer.

Por isso perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções.

A graça desça sobre cada um de vocês!

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

AMÉM!


Padre Fábio de Melo

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pense na Felicidade



A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor... Não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos amor, todinho maiúsculo.

Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

É o que dá ver tanto cinema.

Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E, se a gente tem pouco, é com este pouco que vamos tentar segurar a onda, com humor, fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista, é fazer o possível e aceitar o improvável.

Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.

A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.
Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. se a meta está alta demais, reduza-a.
Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz.

Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.



Autor desconhecido

sábado, 3 de julho de 2010

O Patriotismo da bola





Há muito tempo não via as ruas com tantas bandeiras do Brasil. Os carros, ônibus, casas, prédios, empresas e até mesmo as pessoas. As cores da nossa bandeira, que já foram questionadas e definidas como 'berrantes' estão por todos os lados. Ganharam vida e venceram alguns preconceitos.

Eu estudei em uma escola pública, um grupo estadual. Todos os dias hasteávamos a bandeira Nacional, ao som de centenas de crianças cantando o Hino Brasileiro. Ser escolhido para colocar a nossa Bandeira no local mais alto do mastro, era uma grande honra para nós.

Tinha que ser pausado, puxar a cordinha bem devagar, afinal a destreza estava em fazê-lo paralelamente com a cantoria. Eu não me lembro ao certo quantas vezes fui escolhido, mas o fiz pelo menos umas 3 vezes em 4 anos. Fiquei emocionado pela oportunidade que a D. Conceição, a D. Valquíria, a D. Eliane e a D. Sandra, minhas professoras do primeiro ao quarto ano, me deram. Elas me ensinaram o amor incondicional, neste caso, a pátria.

Talvez esta palavra 'incondicional' pareça meio forte ou até mesmo exagerada para alguns, mas para mim soa redundante se usada para caracterizar o amor, pois amar já expressa em sua essência uma entrega sem condições.

As aulas no Grupo Estadual Padre Eustáquio, tinham como objetivo o plantio deste conceito em nós. Amar o país onde nascemos e dar a vida por ele. Esta é a parte mais bonita do amor, dar a vida por alguém! Você já sentiu isso? Um sentimento tão forte e bonito, capaz de transformar a barreira mais intransponível de todas em pó? Mais do que isto, talvez a certeza de que poderia viver todos os dias de sua vida para fazer alguém feliz? Se a resposta é sim, você sabe o que é amar!!

Mas dá para amar a Pátria? Pensamos logo nos políticos corruptos, que deixam milhões morrendo sem o mínimo necessário, por suas causas pessoais. Nos ricos mesquinhos que não dão nem o que lhes sobra. Nos vilões cinematográficos. Pensamos nos jogadores mercenários, que vão à Copa do Mundo para se vender individualmente, esquecendo dos 190 milhões de torcedores.

Eles não são o Brasil meus amigos! Nosso verdadeiro país é feito de pessoas sem teto, sem água, sem comida, sem terra, sem cidadania, sem identidade... classe D e E mesmo. E nem vou entrar no mérito político de algumas facções que, sob a bandeira das mesmas, também advogam em causa própria. Estou falando dos sofridos, dos que deveriam ter o auxílio do governo e que no máximo recebem a solidariedade de 'corações amorosos'.

Amar o Brasil, não é vestir verde e amarelo a cada 4 anos, é viver por ele diariamente. Em outras palavras, viver todos os dias pelos menos favorecidos, por uma comunidade universal e fraterna. Sem peso, sem estresse, sem cobranças, apenas sendo um exemplo vivo de amor por onde passamos já seria bastante.

Simples não? Eu sei que nem tanto... Confundimos muito o gostar com o amar; o nosso, com o meu; o mau, com o quase bom; o outro, com o desconhecido. Amar sem condições é difícil até mesmo em casa, fora então... Por isso a importância de seguir estudando, agindo e orando. Ter fé!!

Segundo a imprensa, o técnico Dunga escolheu jogadores sob a premissa do amor. Atletas que entram em campo representando uma nação, sentido o peso das cores em sua camisa e carregando a esperança de todos os brasileiros; dispostos a dar sua vida em campo para melhor representar seu país, Airton Sennas do Brasil. Conceito para mim mais do que válido e certo, sem discutir se ele conseguiu ou não reunir pessoas assim. Pelo menos na intenção ele teria acertado, na escolha quem sabe...

Hoje ouvi no rádio uma canção que dizia, “Até bem pouco tempo atrás, poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem?” Talvez ela só esteja na seção de perdidos e achados, aquela mesma onde nós deixamos guardado por 4 anos nossos apetrechos verdes e amarelos; ou quem sabe aquela outra onde estamos guardando há anos, o amor incondicional...

Beijos,

Paulo Tadeu de Resende


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Conselhos e Orações

No encontro da fazenda, entre tantos testemunhos emocionantes e demosntrações de amor e entrega pela causa cristã, uma frase do Paulo Tadeu, me chamou muito a atenção.

"Doar não é dar o que te sobra, e sim, partilhar o que se tem".

De imediato, pensei em bens materiais, mas partilhar é bem mais amplo. Os bens materias são importantes, mas partilhar o amor, o tempo, a atenção e os dons, é por vezes, e pra muita gente, tão importante quanto o ar que se respira. E esse sentimento, permeou o nosso final de semana.

Estas palavras não saem da minha mente. A todo instante, penso em novas formas de repartir com todos, tudo o que tenho de melhor em minha vida. Como numa tentativa inútil de "pagar" o bem que foi feito ao meu coração.

De certo, só sei, que quanto mais eu tento fazer, mais por mim é feito. No Reino de Deus é assim... quem quiser ser grande, seja o menor entre vós. Quero então, comprtilhar com vocês uma oração que me traz muita paz e serenidade.

"Desiderata" é uma oração que foi encontrada na velha Igreja de Saint Paul, em Baltimore, EUA, no ano de 1692. Além de um texto poético, desiderata permanece moderna, tal como todas as orações inspiradas no Espírito Santo.

Eu vejo esta oração como se fossem "conselhos"... e é como se diz lá no interior de Minas... aconselhar é como beijar, não lhe custa nada e é algo agradável de se fazer.

Um abraço fraterno à todos. Que a paz esteja com vocês.

Márcio Vítor

Desiderata

Vá placidamente por entre o barulho e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio.

Tanto quanto possível, sem capitular, esteja de bem com todas as pessoas.

Fale sua verdade calma e claramente e escute os outros, mesmo estúpidos e ignorantes, também eles têm a sua história.

Evite pessoas barulhentas e agressivas, elas são um tormento para o espirito.

Se você se comparar com os outros, pode tomar-se vaidoso e amargo, porque sempre haverá pessoas inferiores e superiores a você.

Desfrute suas conquistas assim como seus planos.

Mantenha-se interessado em sua própria carreira, mesmo que humilde, é o que realmente se possui na sorte incerta dos tempos.

Mas não deixe que isto o torne cego à virtude que existe, muitas pessoas lutam por altos ideais, e por toda parte a vida é cheia de heroísmo.

Seja você mesmo.

Principalmente não finja afeição, nem seja cínico sobre o amor; porque em face a toda aridez e desencantamento, ele é perene como a grama.

Aceite gentilmente o conselho dos anos, renunciando com benevolência às coisas da juventude.

Cultive a força do espirito para proteger-se num infortúnio inesperado.

Mas não se desgaste com temores imaginários.

Muitos medos nascem da fadiga e da solidão.

Acima de uma benéfica disciplina, seja bondoso consigo mesmo.

Você é filho de Deus, não menos que as árvores e as estrelas, você tem o direito de estar aqui, e quer seja claro ou não para você, o universo se desenrola como deveria.

Portanto esteja em paz com Deus, qualquer que seja sua forma de concebê-lo e seja qual for a sua lida e suas aspiraçoes, na barulhenta confusão da vida, mantenha-se em paz com a sua alma.

Com todos os enganos, penas e sonhos desfeitos, este é ainda um mundo maravilhoso...

Esteja atento.

Empenhe-se em ser feliz.


quarta-feira, 19 de maio de 2010

A vaca não foi para o brejo

Meus caríssimos irmãos e amigos,

Tudo indica que alguém tentou roubar uma vaquinha prenha da Fazenda de Caná. A mocha apareceu presa entre as pedras, ladeira abaixo, com o bezerrinho já morto e ainda parcialmente dentro da mãe. Mas quem faria isto? Quem seria capaz de entrar em uma fazenda de recuperação para dependentes químicos e tentar roubar um animal? Parece que foram as mesmas pessoas que tentaram esvaziar a represa de lá, supostamente para levar todos os peixes ao mesmo tempo. Para que pescar? Para que dedicar tempo de sua vida e no final, sair com alguns poucos e minguados peixes? Melhor destruir o lago e sair com todos os peixes ao mesmo tempo. Escolher os maiores sem trabalho e deixar os outros se sufocando até morrer!!

Este final de semana coordenamos o 2º Encontro para dependentes químicos na Fazenda de Caná. Um final de semana dentro do mundo das drogas e do álcool. Precariedade geral! A estrutura falta água na cozinha. Os quartos estão infestados de pernilongos. Falta um vidro em uma janela do módulo 8 e o frio foi implacável. Os chuveiros funcionam como conta gotas. Os colchões são macios demais. Existe uma coluna no meio da sala de palestras. Faltam espelhos!! É, isso mesmo, faltam espelhos.....

36 pessoas marginalizadas pela vida, pela sociedade, pela família e principalmente, por eles mesmos. As razões são conhecidas e as vezes, completamente antagônicas. 'Eu tinha tudo' e o 'Eu não tive nada', caminham como irmãos siameses. 'Minha família era desestruturada' e o 'Minha família sempre esteve ao meu lado', são vizinhos na realidade destas pessoas. A Fazenda de Caná recebe quem chegou no 'fundo do poço' e decide plantar o que resta de sua semente humana naquele solo. Muitas vezes os pássaros as comem, outras tantas os espinhos as sufocam e algumas tais, criam raízes, crescem, florescem e dão frutos!!

Meus irmãos, este final de semana alguns de nós tivemos a dádiva de estar lá em corpo e alma, levando uma mensagem diferente para estas pessoas. Como da primeira vez, a ironia da vida fez com que saíssemos muito mais abastecidos do que chegamos e provavelmente, recebemos mais do que deixamos.

Aécio, Carla, Elimar, Ira, Jack Pontes, Marcinho, Mozart e eu tivemos esta honra de estar lá, de sentir que 'aquela velha e já conhecida sementinha', foi plantada de novo em nossos corações, como no final das Paradas Prodes que marcaram indelevelmente nossas vidas, a mesma, igual, ou provavelmente ainda melhor. Isso mesmo! É bem possível que tenha sido muito melhor, pois hoje temos a maturidade para percebê-la com muito mais proficiência!

Convocando os irmãos/amigos para este propósito, tenho escutado razões diferentes para declinar o convite. Um deles (que eu amo e tenho muita saudade...) me marcou muito, dizendo que não participaria outra vez das ações da Associação, porque hoje ele não acredita mais naqueles preceitos, mais do que isso, tem uma lembrança muito linda daquela época e como seria impossível vivê-la outra vez..., prefere ficar apenas com a lembrança maravilhosa em sua mente e não destruí-la com a nova realidade.

Como lamento isto. Nós todos recebemos uma bênção maravilhosa, talentos com manual de instrução.... e os usamos com amor na adolescência/juventude, mas 'o mundo lá fora' (como costumávamos dizer) é diferente. O Ter, o Prazer e o Poder, são inimigos poderosíssimos. Quem os subestima, sucumbe! Assim mesmo, radical, exagerado!! O final de semana, no melhor dos casos, é para a família! Opa, mas espera aí! Volta a fita um minutinho. Os marginalizados não são nossos irmãos também? Filhos, pais e parentes? Podemos negar o que quisermos, mas sabemos que seja pelo lado Cristão ou seja pelo lado Social, ou até mesmo pela profissão que exercemos, convivemos diariamente com esta realidade.

Será que se os pais destes internos tivessem se doado a esta causa lá no passado, aquele traficante que corrompeu seu filho não poderia ter tido uma outra vida? Quem sabe o 'drug dealer' não cruzou o caminho destes pais de alguma forma. Quem sabe se este pai ou esta mãe tivesse se voluntariado a sei lá... dar catequese em sua paróquia por exemplo, não teria mudado o rumo daquele garoto que hoje corrompeu seu ente querido? Não sei e nunca saberemos amigos!! Mas talvez esta possa ser nossa realidade futura. Por favor, não sou a 'Mãe Diná', mas olhem pela janela um pouquinho e não será difícil perceber que esta possibilidade teatral que eu crio aqui, não está muito distante da realidade...

Caríssimos, não estou escrevendo para puxar a orelha de ninguém, até porque a primeira a ser esterçada deveria ser a minha! Estou escrevendo estas linhas para dividir com você que sentimos de novo aquela chama; que a semente foi plantada; que ali é um pedaço do paraíso; mas não pode agradecer... não era assim que falávamos?

Estou escrevendo porque quero dividir minha alegria com vocês. Porque ouvir alguns internos dizendo que 'vão passar para frente o que a Família de Caná está fazendo por eles', ascende outra vez a chama (utópica...?) de que podemos transformar o mundo!! Envio estas palavras porque os Amo, vocês sempre foram e serão minha família, com toda a normalidade de todas elas, erros e acertos, amor e ranços; e sendo assim, quero dividir com vocês a felicidade que transborda em meu coração. Quero que vocês estejam lá nos próximos e sintam o mesmo gozo que estou sentindo agora.

O mundo vai continuar destruindo a represa e roubando os peixes graúdos, mas a "vaca não foi para o brejo" meus irmãos! Que Deus continue nos dando força e coragem para não sucumbirmos.

Beijo,

Paulo Tadeu