quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Fazenda


A Fazenda... Parece até nome de programa de TV. Um reality show onde as pessoas vivem intensamente sua experiência de permanecerem num ambiente distinto do que compartilham no seu dia-a-dia.

Entre o dia 28 e 29 deste último novembro compartilhamos a experiência de saída da tortuosa realidade de alguns rapazes para a inserção num concreto programa de revitalização. Um outro tipo de “programa de TV”, onde os personagens têm o destino em suas mãos e onde a vitória é recuperar a dignidade e a possibilidade de viver; e não apenas sobreviver.

A partir de um pedido do Padre Osvaldo, nos organizamos para oferecer uma Parada Prodes adaptada para a turma de internos da Fazenda de Caná. Ensaiamos durante quase dois anos para criar coragem e marcar uma data para o encontro. Depois de muita conversa e muita mensagem trocada, decidimos que faríamos independentemente das adesões ao projeto.

Montamos uma equipe pequena, mas possível, afinal foram poucos que tiveram a disponibilidade para a tarefa. Digo poucos porque o plano de realizar o encontro era de muitos de nós. Atender o pedido do P.O. era uma meta do grupo e não apenas dos que tiveram o privilégio no encontro.

Portanto, éramos poucos, mas carregávamos os corações de muitos. Muitos outros de nós que não puderam partilhar da restauradora e inovadora experiência que se descortinou em nossa frente, mas conspiraram conosco durante os dois anos de preparação.

Quanto ao final de semana em si, fica difícil de descrever; afinal tenho as impressões de alguns e meu sentimento, ainda confuso, da alegria de oferecer tão pouco e receber tanto.

Sensibilizamos a turma com uma leitura e reflexão sobre a Parábola do Semeador...

Começamos com Aécio e sua alegria na manhã chuvosa de sábado. Para dar seriedade à palestra, felizmente, tivemos a Denise. Eles descreveram para os Internos[1] como se nos apresenta a Realidade do mundo e deixaram claro que o problema deles é um problema social e que nós estamos juntos para achar as soluções.

Na seqüência, Carlinha e Mozart ofereceram um panorama da Pessoa Humana, suas limitações, suas possibilidades. Realçaram a importância de se sentirem maiores do que a pequinês à qual foram reduzidos pela sociedade apresentada pelo Aécio e pela Denise.

Durante a tarde, Marcinho apresentou uma nova visão da relação da Pessoa Humana com Deus. E revelou os caminhos da Fé para a turma, mas foi durante o início da noite que exemplificamos a revelação com o filme: “O pequeno milagre”. Parecia suficiente, mas era só o começo.

Então, fomos à capela... Foi lá que os brilhos daqueles corações iluminaram a escuridão daquela noite. Corações e corpos feridos; vidas e histórias dilaceradas se apresentaram e encheram a noite de lágrimas e esperanças; arrependimentos e promessas; morte e vida.

Dormimos; ou pelo menos tentamos, afinal o Altimar era uma trovão constante. Sem ele a cozinha não acontecia, mas com ele a noite ficou mais longa e barulhenta. Deixou até o Aécio em silêncio.

Começamos o domingo observando mais de perto a pessoa de Jesus de Nazaré, aprendendo qual era o jeito Dele para lidar com as pessoas e as situações. Afinal, sobre Jesus os internos falavam o tempo todo; então era preciso mostrar para eles o quão perto Ele estava. Esta foi minha missão.

Paulo, não o de Tarso, mas o Tadeu; aproximou a Igreja e seu papel social nas vidas de todos eles. Para simplificar a coisa ele começou e terminou sua fala com a construção da própria família; o que deixou a todos com a certeza da função determinante da família na construção da Obra de Deus.

Ao final, foi uma inundação de saberes já sabidos e pouco praticados; misturados com uma torrente de emoções que já havíamos esquecido. Um gosto do dever cumprido e um vazio do tanto que se tem para ser feito e do tanto que precisamos uns dos outros. Nós, companheiros de jornadas e de altares, no Prodes ou fora dele. Nós precisamos uns dos outros. Nós nutrimos a Fé uns dos outros.

Sabemos que não temos mais uma visão pura e tão firme do nosso futuro, quanto tínhamos há vinte anos; afinal o futuro chegou e hoje nos deparamos com uma vida diferente da que sonhávamos para os outros. Talvez a nossa vida seja boa, completa, tranqüila.

Porém, ainda não transformamos o mundo.

Nós que participamos da primeira Parada Prodes da Fazenda não carregamos mais a visão ingênua que melhoraremos o mundo apenas nos nossos meios, porque escolhemos meios que nos acomodam demais para isso.

Também não achamos que nossa participação em encontros é tudo que se espera de nós, mas tivemos a nítida impressão que a diferença foi feita para 38 internos em um fim-de-semana chuvoso de novembro.

Seguiremos. Tadeu tem a missão de marcar dois encontros para os internos em 2010 e um encontro para os familiares dos mesmos, ainda em 2010. Estaremos juntos, sejamos os presentes na Fazenda ou os presentes em nossos corações.

Descrevi fatos... As emoções serão descritas no próximo artigo.

Elimar Melo

[1] Nome dado aos participantes do Programa de Recuperação da Fazenda de Cana.

Um comentário:

  1. Fiz a Parada Prodes a muitos anos atrás e ela mudou minha vida. Adorei essa idéia de fazer uma parada para os internos.
    Beijos, Dani

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